domingo, 14 de setembro de 2008

US$ 10 12 de resgate para os jogadores da Wall Street

Quadro: George Grasz "Eclipse of Sun", 1926. Oil on canvas. 210 x 184 cm. Heckscher Museum, Huntington, NY, USA.










Nada para as famílias e os reformados
por Michael Hudson

Se o movimento para um Executivo Unitário com um poder presidencial sem peias já o assusta, a viragem da direita radical dos EUA para a Finança Unitária deveria assustá-lo ainda mais — e aumentar as suas dívidas também. Os acontecimentos financeiros das últimas duas semanas de Março de 2008 demonstraram que o "realistas económicos" e os "mercadores de dinheiro", que Franklin Delano Roosevelt (FDR) expulsara do templo das finanças, voltaram para maltratar a nossa economia conduzindo-a aos horrendos apuros da inédita criação do risco-dívida, eufemisticamente chamado "alavancagem" e "criação de riqueza".

As poucas limitações que subsistem para o cada vez mais centralizado planeamento do sector financeiro, especialmente ao nível do Estado, estão a ser varridas para o lado com o pretexto de "salvar o sistema". Os poucos beneficiários da Wall Street que utilizam esta frase explicam simplesmente o que é este sistema. Em primeiro lugar, seus administradores políticos são indústrias de lobbies indicadas para altas posições administrativas e de planeamento nas agências públicas que supostamente regulamentam estas indústrias. Sua ideia de planeamento financeiro é colocar um milhão de milhões (trillion) de dólares em fundos de agências governamentais e em garantias de créditos em risco. Esta agência de financiamento era suposta que fosse utilizada para ajudar famílias americanas médias a obter habitação e cuidados de saúde, e para proteger suas poupanças e proporcionar as suas aposentadorias. Ao invés disso, ela está a ser mobilizada para apoiar banqueiros e administradores financeiros da economia. Na verdade, as últimas poucas semanas assistiu-se a milhões de milhões de dólares serem comprometidos na economia de guerra e no apoio aos bancos.

A livre criação de crédito do sistema bancário, que duplica aproximadamente a cada cinco anos para a economia como um todo, ameaça culminar na escravização de muitas famílias americanas através da dívida, bem como de indústrias e governos estaduais e locais. O excedente económico está a ser rapidamente absorvido por uma combinação de serviço da dívida e planos de emergência (bailouts) governamentais para credores cujos esquemas Ponzi estão a entrar em colapso por todo o lado, desde o imobiliário residencial até o comercial, assim como os empréstimos para tomadas de controle (takeover) de corporações por bolhas económicas de crédito estrangeiro.

Este é o contexto no qual devem ser vistas as perturbações financeiras das últimas semanas envolvendo o Bear Stearns, o JPMorgan/Chase e a paisagem da dívida em mutação rápida. "O sistema" que o Tesouro, o Federal Reserve a as agências do New Deal capturadas pela administração Bush está a tentar salvar é uma vasta economia Ponzi. Quero dizer com isto que o plano de negócios é os credores emprestarem aos devedores dinheiro suficiente para que eles paguem os custos dos juros de modo a que se mantenham em dia nos seus empréstimos.

Nos últimos anos este sistema dependia de os preços de activos como imobiliário, acções e títulos serem inflacionados o suficiente a fim de permitir aos devedores penhorarem estes activos como colateral ao mais alto preço do mercado para mais e mais novos empréstimos. Mas agora que a bolha do imobiliário se rompeu (e na verdade, quando as acções afundam), o problema é como salvar o topo do nosso iceberg económico que mergulhou numa situação líquida negativa – uma situação em que as dívidas ligadas à propriedade excederam seu valor de mercado. Alguém deve assumir uma perda – mas quem?

Normalmente é o banqueiro ou o investidor que assumem a perda. Mas agora supõe-se que eles sejam "resgatados" e isto está a ser apresentado como um retorno à estabilidade. Mas era um sistema que, para começar, nunca fora estável.. De facto, para este resgate funcionar a maior parte dos americanos terá de possuir menos e dever mais, apesar de se lhes dizer que tudo isto faz parte do caminho para a criação de riqueza – como se fosse sua riqueza, não aquela dos seus credores. A dádiva do seguro ao Bear Stearns/JPMorgan Chase para "salvar o sistema financeiro" proporcionou uma ilustração viva de como as Finanças Unitárias desenvolveram um relacionamento parasítico com o trabalho americano no seu papel como contribuidor das pensões, do consumidor e dos proprietários de casas. O sistema que está a ser subsidiado permite ao sector FIRE (Fire, Insurance and Real Estate) dirigir e viver fora dos esforços produtivos dos outros – as pessoas que fabricam coisas reais e proporcionam serviços reais.

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